domingo, 17 de abril de 2011

O mito é o nada que é tudo

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.


Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.


Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.


FERNANDO PESSOA

(1934)

Nenhum comentário:

Postar um comentário