quarta-feira, 4 de maio de 2011



Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!


Imediatamente me veio à cabeça situações

em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,

esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,

depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,

o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas

que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento

articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,

ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias

para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações

em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,

quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,

é aquele que fala.

E fala alto.


É quando ninguém bate à nossa porta,

não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.



Martha Medeiros

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